Na última década ética e moral foram assuntos vetores das manchetes e movimentos sociais. Atravessamos mensalão, petrolão, impeachment e coisas mais, fatos estes que invariavelmente tinham em seu nascedouro ou estopim, valores e princípios há muito esquecidos (ou nuca praticados) cujos ensinamentos não são necessariamente derivados de um processo educativo essencial, mas sim cultural. Boa parte dos problemas econômicos e sociais do Brasil não decorrem da ausência ou deficiência da estrutura educacional, mas sim de uma patologia cultural que tem o poder de, por exemplo, destruir justiça social que necessariamente passa pelo bom emprego de recursos públicos. Sim, o brasileiro é o problema, pois culturalmente somos adeptos às formas mais variadas do “jeitinho”.
Tudo que fazemos tem consequências e, a depender do contexto da prática de nossos atos as consequências podem ser maiores ou menores. Daí, por exemplo, a importância e o potencial da prática dos atos de gestão pública quando da realização de justiça social por meio do emprego de recursos públicos. Todavia, a prática de atos de gestão pública, ainda que institucionais, decorre da vontade de pessoas tais como eu e você. Sim, um brasileiro ou um grupo de brasileiros, determina a implementação e o direcionamento da prática de atos que alcançarão milhões de pessoas. Sabemos que quem decide foi legitimamente eleito ou investido em cargo público para tanto, contudo o problema não está na forma, mas sim na essência. Segundo o relatório anual de Índice de Percepção de Corrupção publicado pela Transparência Internacional o Brasil é considerado um país altamente corrupto.
O brasileiro em si é um típico cidadão egocêntrico e agonístico fazendo com que características sociais de comportamento sejam consolidadas na sociedade tais como o jeitinho e a malandragem e essas características marcantes não dependem do nível de escolaridade da pessoa mas tão somente dos vetores culturais que estão profundamente conectados ao seu modo de pensar e agir. Tanto é verdade que conhecemos muitos corruptos condenados com alta nível de escolaridade assim como conhecemos casos de pessoas nascidas e criadas no crime mas que preferiram a ética à imoralidade em sua acepção kantiana.
É incoerente reclamarmos de corrupção se ela habita em nós brasileiros. Reclamar daquele político corrupto, em última análise, é reclamarmos de nós mesmos, pois a única diferença entre ele e nós é que a corrupção praticada por ele tem maior visibilidade e potencial lesivo que aquela praticada por nós, mas ambas navegam pelas mesmas ideias de mão tão dadas quanto o fisiologismo característico das relações de poder.
Portanto, o dia em que no Brasil pensar coletivo e ser ético não for mais uma virtude, mas sim uma simples condição natural, saberemos que estaremos no caminho certo e que o brasileiro não será mais o problema, mas sim o porquê da prosperidade.
Autor: Hygoor Jorge Cruz Freire